Um grande bárbaro com a minha idade ensinou-me algo muito importante há pouco mais de uma semana. Mais do que uma questão de aparo, manter uma barba saudável e apresentável é uma questão de penteio. Esse conselho mudou a minha vida.
Um grande bárbaro com a minha idade ensinou-me algo muito importante há pouco mais de uma semana. Mais do que uma questão de aparo, manter uma barba saudável e apresentável é uma questão de penteio. Esse conselho mudou a minha vida.
Joaquin Phoenix, Zach Galifianakis called. He wants his fucking Zach Galifianakis back...Now I know how Yakov Smirnoff felt when he saw Borat. - Zach Galifianakis
Alguém me perguntou: "Então e a barba do Joaquin Phoenix?" E o problema reside precisamente aí. Não, não, não e não. Ora, eu não me identifico com o Joaquin Phoenix. Ou melhor, não me identifico com a barba dele. E o objectivo disto tudo é encontrar barbas com as quais me identifique, barbas que invejo, barbas que gostava de ter, etc. Isso não acontece com o Joaquin Phoenix. Não aprovo a barba dele. Não gosto. Não quero ter uma igual. Por isso não vale a pena imortalizá-la aqui. Até porque toda a gente a conhece.
Mesmo que já tenha aparecido por aqui, era só uma desculpa para publicar esta fotografia do mestre com os Clipse. Nunca é de mais relembrar o monumento que é a barba do Rick Rubin. É uma das maravilhas do mundo moderno. E não é por nada, mas a barba dele é parecida com a barba que o Terry Gilliam, como membro dos Monty Python, desenhou a Deus. Estou só a atirar isto para o ar, não estou a dizer que há uma relação entre os dois.
Não é obrigatório, mas quando se é careca ter uma barba faz maravilhas. O grande David Cross, por exemplo. Uma barba aparentemente simples que diz tanto. E, ao contrário do bigode dele, não resvala para o humor.
Tudo no sítio. Gosto muito. Um dia destes tem de entrar para aqui o Philip Seymour Hoffman, um caso sério de um actor que fica sempre bem qualquer que seja a pilosidade facial que escolhe.
Outra das barbas dele. David Eldestein sobre ele na New York:
When we talk about an actor being “hip,” it’s often subjective: He or she embodies what we’re not but on some level long to be. To me, David Carradine was the apogee of hipness: not my favorite actor, not even in the top 50, but my existential hero, and a man who looked like he got laid a lot — a sort of B-movie Jack Nicholson.
Estamos a falar de um homem que com pouca barba faz milagres. Não precisava de ter uma barba tão comprida. Mas tem. E é isso que mais interessa. Sim, eu lembro disto, mas esta nova barba é completamente diferente, mais esticada e esguia. Bravo, Sr. E, bravo.
Estou prestes a voltar atrás na minha decisão de deixar crescer a barba. Está demasiado calor e ainda por cima acabei de receber um SMS que dizia "ola ines, amanha levas a tua camisola?" Que, se não for engano, é uma das maiores ofensas que já me fizeram na vida. É como se a minha barba não fosse máscula. A minha barba é muito máscula. Mas pelos vistos há quem ache que não e fica a pensar que me chamo Inês. Não me chamo.
Rick Rubin, uma das melhores barbas de sempre. Qual destes é que parece ser o homem mais sábio? Rick Rubin. O mais poderoso? Rick Rubin. O mais venerável? Rick Rubin. Claro, ambos têm uma mancha enorme no curriculum por terem trabalhado com os Linkin Park, mas o Rick Rubin, só por causa da barba, ganha ao Jay-Z em todos os campos. E nunca teve de vender crack ou de fazer diamantes com as mãos para vencer na vida. Bastou deixar crescer uma barba. Mais nada. E que fique bem claro que considero o Jay-Z um patrão. Só acho que seria ainda mais patrão se tivesse barba. Mas não, ele insiste em barbear-se constantemente. Uma parvoíce. Quando estão juntos fazem magia, sim. Só que a imagem que fica é a da barba do Rick Rubin. Não consigo ter olhos para mais nenhuma.
Bridges e Daniels. Dois clássicos americanos (e a barba do Bridges não é, definitivamente, para todos, arriscaria a dizer que é só para ele e só quando faz de Dude).
A barba sempre me impressionou imenso. Mas a combinação calças pretas+cinto branco+camisa cor-de-rosa+casaco branco mata-me. Também quero. Vou experimentar e depois tiro uma fotografia igual.
Deixar crescer, simplesmente. Um farto bigode, uma farta barba. Livin' large. À grande e à francesa. E reparem nas regras todas que ele está a quebrar: é demasiado grande, é demasiado selvagem, está a usar guyliner, etc. Mas funciona. Não é para todos, é só para ele.
Não consigo perceber o que é que ele quer transmitir com esta barba. Há algo de muito errado aqui, e é não é só o facto de estar ao lado da Bette Midler.
A barba do M-e-t-h-o-d Man. Muito, muito respeito. Com uma barba e um estilo destes nunca teria sido Cheese Wagstaff, teria sido Stringer Bell.
Adoro a barba que o Adrien Brody tem no último número da New York Magazine. Se todas as barbas fossem assim, simples, eficazes e sem rodeios, o mundo seria um sítio melhor. E o ar judeu de "desculpem lá, malta, tenho barba" só lhe dá ainda mais pontos.
As pessoas que trabalham em política podem, por vezes, ter barbas muito, mas muito aparadinhas e inofensivas. Nunca percebi o apelo de ter uma modalidade de barba em que é necessário fazer mesmo a barba para a manter. Vai, parece-me, contra a própria ideia de ter barba. Que é basicamente algo que, ao contrário de fazer a barba, não exige uma manutenção diária. Talvez bidiária, no máximo dos máximos, mas é seguro assumir que não é preciso estar sempre a ver como está, que se pode deixá-la estar um dia ou dois que nenhum mal vem ao mundo. A barba política que menos compreendo é a de Abraham Lincoln. Por que raio haveria um gajo de deixar crescer uma barba e fazer o bigode? É, para mim, inconcebível. Ter bigode é, provavelmente, a melhor parte de ter uma barba. Há, claro, o inconveniente de às vezes irem lá parar bocadinhos de sopa. Mas, caramba, isso nunca acontece quando se trata de homens civilizados. O Freeway usa barba à Abraham Lincoln. E aposto que acha que é o homem com mais pinta que há. Não é. A barba dele será, porventura, semi-presidencial. Mas tudo porque ao seu lado está, geralmente, Jay-Z (El Presidito, hola Hovito, etc. – e infelizmente um grande fã da arte de bem barbear). Apenas e só por isso. Não consigo perceber. Isto das barbas é muito complicado. Bem, sempre é melhor que ter um passa-piolhos.
E, claro, a imponente barba do Nélson Gomes (Filho Único/Gala Drop). Adoro.
Portugal também tem barbas. Existem três que, agora de repente, me vêm à cabeça. Parecem-me ser das barbas mais importantes desta década no nosso país. Por acaso estão todas ligadas à música. Não aprovo necessariamente a música que fazem, mas gosto muito das suas barbas.
A Flor Caveira trouxe-nos várias barbas modernas. Há a de Tiago Guillul ou a de B Fachada, talvez as mais mediáticas. São demasiado selvagens e pouco consistentes. A estrela do eixo é sem dúvida João Coração. Agora parece ter desistido da barba completa, mas quando a tem é incrível. É uma barba de dândi – sim, escreve-se assim, fui agora confirmar e estou muito contente por ter escrito assim – como não se via em Portugal há alguns anos. E as pontas do bigode são arredondadas, o que é magnífico.
Depois há as barbas mais ou menos fri: o Quim dos Vicious Five/CAVEIRA tem uma barba belíssima (o Barreiros, curiosamente, também já teve uma barba, mas era demasiado selvagem para ser notável, leva apenas pontos por ter tido), é tão consistente que sempre que o vejo perco a vontade de deixar crescer uma barba; e o gajo dos Calhau! (não encontro uma fotografia melhor, experimentem googlar "calhau", é tramado, mas o tipo anda com uma barba incrível, compridíssima, triangular, uma pausa absolutamente descomunal).
Sim, são "jovens" (já devem todos ter passado ou estar a passar a barreira dos 30), mas que se lixem os clássicos, estes são os novos cânones das barbas crescidas e mantidas em Portugal.
"You're just wrong about the beards." – Michael Ian Black
Isto é às vezes é tão verdade. Tão verdade.
Será que eu acho piada a praticamente tudo o que sai da cabeça do Aziz Ansari por ele ter realmente piada ou apenas por ele ter barba? Nem é uma grande barba, mas fica-lhe bem. E especialmente quando está a fazer de criança. Por falar em Aziz Ansari e gente com piada, o Judd Apatow tem barba. Será que é por isso que lhe acho piada? Será que a barba transparece no que ele escreve e realiza?
“Was it weird when you changed your name from Cat Stevens to Yusuf Islam?” - Jonah Hill, Knocked Up
Gostava que não gozassem assim comigo quando a barba estiver crescida. À minha volta quem tem piada suficiente para mandar piadas destas gosta de barbas. Isso e a minha barba crescida é mais fixe que a do Martin Starr. Muito, muito mais.
Sem sombra de dúvida, as grandes barbas da minha infância são a do meu tio e a do meu padrinho. Barbas respeitáveis, nunca selvagens, que fazem parte daquilo que eles são. Mas também há barbas que eu nunca cheguei a conhecer. Uma vez vi uma fotografia da barba do pai do Manuel quando era mais novo e parecia a barba de um revolucionário de esquerda – algo que ele não é. No ano passado vi uma fotografia do pai da Maria João de barba e óculos de sol e pensei que gostaria de ser assim quando crescesse. Será que ainda vou a tempo?
Será que as constantes referências a gente famosa me fazem parecer o Dennis Miller (adoro a barba, odeio o reaccionário em que ele se transformou)?
Há quem deixe crescer a barba porque não tem paciência para fazer a barba todos os dias. Mas a verdade é que deixar crescer a barba também é complicado. Especialmente ao início. A comichão é a pior inimiga da barba. O calor vem logo a seguir. Um dia, contudo, tudo se resolve. Dá-se o momento mágico em que isso deixa de importar. Depois de algumas semanas com um protótipo de barba e depois de muita comichão, a barba consolida-se. Fica uma barba a sério. Algo que impõe respeito. O que se faz a partir daí é da responsabilidade do dono dela. Mas que é um momento bonito, é.
Isto não quer dizer que, depois de consolidada a barba, a vida passe a ser perfeita. Ainda há muitos problemas. Os clássicos pêlos ruivos que crescem em barbas de qualquer cor, os pêlos brancos (que para mim não são problema nenhum e adorava ter mais), etc. Mas o pior é provavelmente o olhar de lado. A associação das barbas – e do islamismo – ao terrorismo é algo assustador. Quando esse preconceito existe, é geralmente em aeroportos. O que dificulta muito ir para outro país. Donde virá essa ideia? Osama bin Laden tem uma barba, mas Jesus Cristo também tinha. E lembrem-se sempre: Hitler tinha um bigode ridículo. Seria ele um terrorista? Terá passado ao lado de uma vida de terrorismo por não existirem nem bombas nem aviões nem autocarros no seu tempo? Será que é o medo de estar algo escondido debaixo daquele amontoado de pêlos? Será que os terroristas e as pessoas más com algo a esconder do mundo têm mais predisposição para deixar crescer a barba? Será que deixar crescer a barba faz com que as pessoas sejam terroristas ou más?
Nunca se saberá ao certo. Há pessoas más impecavelmente barbeadas, é fácil compreender isso. O mistério ficará para sempre. Até há sítios onde é mais respeitável ter a quase sempre hedionda combinação bigode+pêra – gente como o Simon Pegg, que também é o único homem do mundo que pode descolorar o cabelo e a barba, pode usá-la, por exemplo, mas não há muito mais gente na sua condição, claro, também há o Ricky Gervais, mas isso era uma personagem e isso era suposto fazê-lo parecer pior. É algo inexplicável. Num mundo perfeito essa combinação seria totalmente desencorajada, mas não é. Vá-se lá saber por quê.
A barba do Rick Ross é um caso muito especial. Nota-se que é cuidadosamente aparada, algo que deve custar muito dinheiro num barbeiro. Nunca experimentei. No ano passado li um artigo na Esquire de um dos editores que tinha deixado, pela primeira vez, crescer uma barba. E foi a um barbeiro para aprender a apará-la. A mim, que deixo crescer a barba regularmente desde que tenho 15 anos, nunca foi particularmente importante aprender a aparar a barba. Sempre fui mais de improvisar, de tocar de ouvido, de inventar enquanto estou a fazer. Os resultados nem sempre são bons, como é natural, mas é assim que se aprende (é essa a grande vantagem das barbas: pode-se sempre deixar crescê-las outra vez). Mesmo aparada, a barba nunca chega ao nível quase assustador e sobrehumano de gente como o Common ou o John Legend, tão calculadas que até mete impressão. Porque, e como diziam no tal artigo da Esquire, aparar sim, mas ter um relvado simetricamente cortado na cara não. A barba aparada mas não em demasia do Rick Ross é o melhor complemento para o porte atlético dele. E fica sempre bem com um charuto, um acessório que é a melhor cereja no topo do bolo de uma barba. Até as mamas de homem dele deixam de ser um caso sério devido ao imenso respeito que a barba dele impõe. E, com tanta polémica sobre ele ser ou não um mentiroso por ter sido guarda prisional da juventude – uma discussão que, obviamente, me assusta imenso, porque eu não quero que ele seja um traficante de droga, quero que seja um rapper inofensivo com uma barba imponente –, a barba do Rick Ross é capaz de ser a característica mais real dele.
Estou a deixar crescer uma barba. Porquê? Porque posso. Há quem não possa. Tenho mais barba que o Keanu Reeves, por exemplo. Ou ele tem menos barba que eu. Não percebo bem isso. A minha grande inspiração é muito melhor – para aí mil vezes – que o Keanu Reeves. Chama-se Zach Galifianakis e é dono de uma das mais belas e fofas barbas que já vi na vida. É daquelas raras pessoas – tal como o Will Oldham, com quem fez este vídeo – que fica bem com ou sem barba e com bigode.
Nenhum deles deixa crescer demasiado a barba. Nem eu o farei. É que há consequências. Se o crescimento for demasiado selvagem correm riscos de ficar com uma barba académica. Existem alguns tipos de barba académica. Três exemplos: Marx, Darwin e o irmão do Pinto da Costa. São todas bonitas à sua maneira, sim, mas só passam se se for mesmo um académico. Eu não sou um académico. Nem o é o Zach Galifianakis. Muito menos o Will Oldham. Só se forem académicos de serem muito bons.
A pergunta que se pode fazer – e descobri hoje que o Galifianakis é muito sensível a perguntas sobre a barba dele – é: será que eles têm piada por causa da barba? Poderá uma barba ser divertida? Poderá uma barba ser considerada humor? Nenhum deles, e isto topa-se à distância, usa barba ironicamente. Como é que é usar uma barba ironicamente? Bigode compreendo, mas agora barba? Serão as barbas deles divertidas? O sentimento que as barbas deles provocam em mim é o sentimento que a barba do Kyp Malone dos TV On The Radio provocou no Stephen Colbert quando eles foram ao programa há uns meses: a vontade de afagá-la. E é basicamente isso tudo o que eu desejo da vida. Que me queiram afagar a barba.